segunda-feira, junho 02, 2008
segunda-feira, abril 28, 2008
Língua e vida

"Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões"
(Caetano)
Quando e como se originou a linguagem já é questão praticamente fora da análise da filosofia da linguagem. Não somente pela impossibilidade de uma resposta satisfatória, mas pela percepção de outros campos de estudo tão ou mais instigantes.
A linguagem, a priori, pode ser confundida com um mero instrumento de comunicação. Mas não. Ela possibilita a abstração, a vida além do mundo físico. Além de nomear o mundo em redor, ela é a responsável pelo devaneio, pelo onírico. O ponto de encontro entre a realidade e o sonho é a linguagem, que faz ambos possíveis.
A capacidade de expressão com o mínimo de discrepância entre o que se pretende e o que se consegue, e nisso está também incluso o que se pretende dizer por entrelinhas, é também condição para que se compreenda tanto o mundo como a si próprio.
Por isso leitura e literatura. Pra lapidar ao máximo essa capacidade, aumentando nosso entendimento de mundo, de vida, de tudo.
Mas cuidado que isso traz uma satisfação que não é exatamente sinônimo de felicidade.
sexta-feira, abril 25, 2008
Da série Pecados Capitais: Inveja
Você jura?
- Oi.
- Oi!
- Ce ta bem, menina! Perdeu aqueles quilinhos a mais, hein!
- Quilinhos?
- Ah, ce tinha dado uma engordadinha depois da sua última viagem pra Europa, não?
- Ah, quase nada...
- Que bom! Então seu Dolci Gabanna novo deve estar vestindo bem melhor!
- Vou com ele amanhã, na festa da Vitória!
- De preto? Em festa de dia?
- Porque? Você acha pesado?
- Ai, preto é ausência de cor. Sempre achei que você deveria ter comprado o azul desse vestido.
- Ah, mas acho que eu vou com ele... Se não fizer penteado, fizer só uma escova, que pesa menos...
- Escova só? Com esse tempo úmido? Se der uma chuvinha então! Te arrasa!
- É, né?! Então talvez eu vista aquele verde longuete, sabe qual?
- Ah sim! É lindo! Mas vai de salto alto, né? Porque você é baixinha, acaba ficando meio atarracada com longuete e sapato baixo.
- Salto alto, claro! Vou com aquela sandália prata, sabe qual?
- Uma que realça seu joanete?
- Ai, ce acha?
- Até que nem tanto. Mas e o Carlos, vai?
- Vai, claro.
- É que eu achei ele com um jeito tão distante na última vez que vi vocês que pensei... Bom, não sei.
- O Carlos, distante? Não. Estamos ótimos. Quer dizer, distante como?
- Não, nada demais. Achei que vocês pudessem ter brigado. Mas se estão bem, ótimo!
- A gente até teve uma discussãozinha, mas nada demais...
- Ah, sabia!
- Mas foi coisa boba, ele se atrasou um pouco...
- Na quarta passada?
- Como é que você sabe?
- Encontrei com ele lá no Bar do Neco... vi que ele tava querendo ir, mas a conversa devia estar boa...
- Bar do Neco? Conversa?
- Ah, você sabe como é quando ele e Vitória se encontram...
- A Vitória? Ela está casada! Aquele ciúme era bobeira da minha cabeça!
- Claro que era. Eles acabaram ficando só amigos mesmo.
- Nós dois fomos até padrinhos do casamento dela!
- É, claro. Isso prova que realmente não tem nada entre os dois. Ou então...
- Ou então o quê?
- Ela chamou vocês pra disfarçar.
- Você acha?
- Homem fiel, só o eunuco.
- Mas o Carlos...
- Se eu fosse você nem aparecia amanhã na festa da Vitória...
sábado, abril 19, 2008
Cadê o cinema brasileiro?

Em 2007, foram feitos 83 filmes no Brasil. Eu, que vi e vejo muito, se cheguei a uns 15 foi muito. Se você perde na única semana que ficam em cartaz (e olhe lá!) e nos festivais, não acha mais pra ver em lugar nenhum. Claro que tem os blockbusters e a propaganda maciça em cima deles tomando o lugar dos nacionais, mas isso é mais um motivo pra se investir em distribuição, dando aos brasileiros acesso aos filmes.
Veja o exemplo de Garotas do ABC. Se tivesse a mesma estratégia (?) de lançamento de Tropa de elite, que se popularizou pela boca dos vendedores de piratas pelos centro e periferia do Rio, teria sido, de repente, bem mais visto. Ou teria ao menos chegado às pessoas do universo retratado no filme.
Essa situação levou Carlos Reichenbach, o diretor de Garotas do ABC e em cartaz com Falsa loura, a se perguntar: “Qual é a relevância de se fazer filmes no Brasil?” (no Segundo Caderno de O globo da última sexta – 18/04/08). A resposta dele: “Essa relevância está em se fazer um tipo de cinema que nos ajude a entender o tempo de hoje.” Muito válido. Toda arte tem esse papel fundamental. Eu só tenho uma questão: entendimento de quem?
quinta-feira, abril 17, 2008
Todo dia, todo dia. eu quero que você venha comigo

“Sob o familiar, descubram o insólito. Sob o cotidiano, desvelem o inexplicável. Que tudo o que é considerado habitual provoque inquietação.”
(Bertold Brecht)
A vida é feita de repetições. Todo dia fazemos tudo sempre igual. E toda semana. Todo mês. E convivemos com as mesmas pessoas e gostamos de falar sobre os mesmos assuntos. E rimos das mesmas piadas. Com algumas poucas variações, nossa vida é sempre a mesma. Fugir da rotina é impossível. Qualquer inclusão que se faça na vida, na esperança de torná-la diferente, acaba por se tornar também parte do cotidiano. Contra isso não se luta. E exatamente por isso existem coisas que nos surpreendem. Ou a surpresa também faria parte da rotina. O exercício mais difícil, e talvez por isso o mais interessante, é achar a beleza do dia a dia. É enxergar, de repente, aquilo que esteve sempre lá e por alguma razão, por descuido talvez, não enxergávamos. É descobrir um novo matiz do rosa no pôr do sol de toda seis da tarde. É ser arrebatado por um mesmo novo sorriso, sempre.
*foto do meu caminho diário, pela orla da Baía de Guanabara
segunda-feira, abril 14, 2008
Let's talk about sex, babe
ou entrega louca
discutem os sábios
entre os pequenos
e os grandes lábios...”
(Paulo Leminski)
Num filme bacaninha que assisti no telecine esses dias, Corações apaixonados (Playing by heart), a personagem de Angelina Jolie solta a frase: “Falar sobre amor é como dançar sobre arquitetura.” E é bem por aí mesmo. Amor a gente vive. Teorias e nomenclaturas à parte. Isso já é, aliás, complicado o suficiente, como tudo o que envolve esse bicho estranho que é o homem.
What a dump!*
(Re) benvindos a minha pocilga!
*Liz Taylor em Who's afraid of Virginia Wolf?, magnífica como sempre e como Martha.
quinta-feira, fevereiro 14, 2008
Sobre galinhas, ovos e outras loucuras
No final de Annie Hall, Alvy, o personagem de Woody Allen, compara uma piada com os relacionamentos em geral.
Um cara chega pra um psiquiatra e diz: Doutor, meu irmão pensa que é uma galinha. O Doutor: porque não o traz aqui para tratá-lo? O cara: porque eu preciso dos ovos.
E são assim os relacionamentos: irracionais, loucos, absurdos, muitas vezes incompreensíveis, mas seguimos neles, sempre tentando fazer diferente. Porque, afinal, precisamos dos ovos.
Yeah, babe, we need the eggs...