segunda-feira, maio 30, 2005

De repente assim, feliz

Ela usava um anel de borboleta e parecia estar feliz. Pelos olhos, pelo sorriso que parecia tentar esconder. Até mesmo pelos movimentos, tão seguros, tão leves. Eu a observava já há muito tempo quando ela percebeu. Tentei desviar o olhar, mas já era tarde. Viu que eu olhava e não me negou um sorriso. Um sorriso primeiro somente de lábios, depois aberto, inegável. Um sorriso que só faz bem. Dado assim, sem que se pedisse...

Foi tudo tão rápido que só depois, quando não a via mais, é que a reconheci. Ou me reconheci. Refletida num espelho de arranha-céu em pleno centro da cidade.

quarta-feira, maio 18, 2005

Porque não a hipocrisia?

Temos que ser sutis.
Sem denúncia, sem panfletagem no poema.
Não vá dizer que em cada esquina morre um homem
de fome, de bala, de outro descaso qualquer.
Não vá ser desagradável com o homem no sofá.

Deixa ele ler o jornal desse Brasil tão distante do seu.
Já basta o seu problema de pressão.
Deixa ele acreditar que no fim se é feliz.
Fazer de conta que sua vida faz alguma diferença.

Deixa ele viver um pouco a fantasia,
que a vida dura se anuncia
e não deve demorar.

terça-feira, maio 17, 2005

Post egóico

Não é amor. Acho mesmo que nunca foi. Pode ser outro sentimento qualquer. Menos nobre, mas ainda assim me prendendo a você. Talvez egoísmo. É, talvez. Não quero perder. Ninguém nunca quer. E te perdi. Perdi toda aquela sua dedicação e seus olhos não me olham mais da mesma maneira.

Ego. No fim das contas, tudo é ego. Se formos analisar todos os acontecimentos do mundo, desde o mais trivial ao estopim de uma guerra mundial, são todos motivados pelo ego. Ferido ou inflamado ou rebaixado... Enfim, ego. E esse meu ego, ferido como está, motiva uma guerra nuclear.

quinta-feira, maio 12, 2005

Ainda bem

Quanto existe pra gente ler no mundo, pra gente conhecer....Caramba, isso me dá uma angústia! Quando eu vejo o pouco que eu sei, o tanto que eu queria saber... Todos os livros na fila pra eu ler e mais os que eu pretendo reler... E as poesias que eu queria saber de cor... O que eu ainda quero conhecer de rock, de mpb, de samba, de jazz... As músicas do Paulinho Pinheiro que não conheço nem um terço. Tudo o que não sei de artes plásticas. E aprender de João Cabral, sem deixar de ler A vida bate do Gullar como uma oração. E me emocionar ouvindo pela milésima vez Olé Olá. E ainda tem o sol, o céu, as pessoas, a praia, o papo furado, o chope, a noite, a vista do forte de Copacabana... Ai, quanta coisa!

Ainda bem!

terça-feira, maio 10, 2005

Agora é pra mim.

Não quero mudar esse meu jeito de gostar do sol da manhã.
Ao ser surpreendida por uma forte chuva de verão,
quero sempre lembrar da infância e esboçar até um sorriso.
Talvez seja bom aprender a medir um pouco mais
a altura da voz, a dureza das palavras, a largura dos gestos,
mas que conserve sempre espontaneidade.
Que o tempo nunca me tire o prazer
de pegar vento nas mãos em alta velocidade na estrada.
Não quero conter a vontade de cantar e de dançar com gosto.
Quero o mesmo bom humor com as pequenas tragédias cotidianas.
E com a mesma intensidade de hoje, quero rir e chorar sempre.

Que eu seja isso que eu sou mesmo com rugas e dores nas costas.

sexta-feira, maio 06, 2005

Hoje é sexta. E sexta já é muito bom.

No meio do almoço surgiu um assunto sobre ter mais de um carnaval por ano. Na hora eu fui contra. Até porque todo mundo era a favor. Mas eu queria sim. Queria que hoje fosse carnaval. Queria a irresponsabilidade consentida. Queria o aval cristão pra fazer a merda que fosse. Queria desatinar, ver chegar quarta-feira e continuar sambando. Queria um pouco de sonho entre plumas e paetês.

Mas hoje é sexta. E sexta já é muito bom.

quarta-feira, maio 04, 2005

Invencionices humanas

Minha avó me veio com esta: a mais importante invenção de todos os tempos é Deus.
E eu pensando na roda, na penicilina, na esferográfica, na escova progressiva, sei lá... Nem me dei conta de que Deus é só mais uma invenção do homem. Desde priscas eras, sempre precisamos acreditar em algo maior, sempre procuramos proteção, amparo. Daí a idéia de Deus ter se disseminado com tanta força e por tanto tempo. Mesmo já tendo sido declarado morto por Dostoievski, Deus está aí, firme e forte, unindo e desunindo os povos.
Acredite você nele ou não, ideiazinha genial, hein?!

domingo, maio 01, 2005

Passou tanto tempo já. No entanto, ao te ver, um furacão estomago adentro. Fico sem ter o que fazer com as mãos. Procuro uma coisa interessante pra falar, qualquer uma. Falo do tempo e de uma possível chuva para as próximas horas. E você com um charme tão natural, toca o meu ombro e sorri. Aquele mesmo sorriso que por um triz não me enfeitiça mais. Aquele mesmo olhar que tem o mundo e que um dia foi pra mim. A gente se despede com um beijo no rosto, um quase abraço e a velha cumplicidade de quem já dividiu o mesmo quarto.